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4. FORTALEZA DE SANTO AMARO: FAÇA, DEFENDA E JUSTIFIQUE A SUA MONOGRAFIA SOBRE O LADO BELO DA ARQUITETUR MILITAR COLONIAL.

EXEMPLOS preparatórios para a produção de trabalhos escolares, com indicação metodológica – Dissertar, Defender e Justificar – e quatro abordagens diferentes sobre um mesmo tema.

 

   BEM-VINDO / BEM-VINDA a este primeiro arquivo que contém exemplos completos sobre a aplicação dos três verbos indicativos (Dissertar, Defender e Justificar).

   Neste primeiro arquivo introdutório apresentamos diferentes "técnicas" dissertativas sobre um único tema central: Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), Guarujá, SP, mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo, indicado, como "bem seriado", para o Patrimônio Mundial pela UNESCO. A fonte de consulta básica é um livro digital do autor, com link ao final deste arquivo. 

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     Os exemplos indicados abaixo não estão com as formalidades exigidas pela Metodologia Científica, pois a introduziremos mais adiante, nos próximos arquivos. Sugerimos, todavia, o uso da METODOLOGIA CIENTÍFICA utilizada pela empresa [email protected], Comissão Científica do 5º Simpósio Científico ICOMOS/LAC, com a devida autorização de uso solicitada a partir de um tema desenvolvido no referido Simpósio Científico, na qualidade de membro do ICOMOS/Brasil - BRA 36714.

   Acesse o Guia da Monografia Científica da Even3 blog (Pesquisa Científica), "utilizado também no Trabalho de Conclusão de Curso":

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PREMIAÇÃO E VÍDEOS MOTIVADORES

   No dia 28 de setembro de 2023 um pequeno vídeo sobre a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), Guarujá, SP, recebeu o prémio “Apollo de Melhor Animação”, no V Festival MILITUM-2023.

   Acesse aqui os filmes premiados no Festival Militum 2023, da Pátria Filmes:

   Acesse, abaixo, o vídeo sobe a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, premiado pela Pátria Filmes, 2023, como "prêmio Apollo de Melhor Animação".

   Sobre o tema deste arquivo inicial, incluímos um outro vídeo produzido pelo Projeto Cultural da Universidade Católica de Santos, em 1999. Por ele, você percorrerá conosco a trilha para o acesso às ruínas do Reduto (PO - Posto de Observação) e do Paiol de Munição de Artilharia, no topo do Morro dos Limões, Guarujá, SP.

     Para melhor situar nosso exemplo em um contexto maior, indicamos o link do vídeo sobre o Sistema Defensivo do Porto de Santos, também participante do Festival Militum - 2023, da Pátria Filmes e exibido no auditório do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, Rio de Janeiro, no dia 26 de setembro de 2023.

QUATRO EXEMPLOS DE TRABALHOS ESCOLARES

   A seguir, alguns exemplos de trabalhos escolares, com diferentes técnicas descritivas, expositivas e referenciais (dissertar, defender e justificar), utilizando a Fortaleza de Santo Amaro como tema explorado por diversas formas.

   Dissertar: nº 1 – dissertação com texto na primeira pessoa; nº 2 - dissertação simples, com todos os parágrafos iniciados com uma mesma “palavra-chave”; nº 3, um exemplo, no formato de “história oral”; e, nº 4, um exemplo no formato de “pesquisa de campo”;

   Defender: nº 5, imagens comparativas sobre as obras de restauração da Fortaleza de Santo Amaro, concluídas no final do Século XX; e,

   Justificar: nº 6, indicamos a fonte básica de consulta (livro digital do autor no final deste arquivo). Para diminuir o tamanho deste arquivo inicial, o Defender e o Justificar, são comuns para as quatro versões do tema proposto.

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1 - FORALTEZA DE SANTO AMARO, redigido na primeira pessoa, como se ela, a Fortaleza, estivesse se apresentando ao leitor.

Capa, contracapa do "livro de bolso" editado em 2020 e distribuído gratuitamente.

Livro digital completo:

PRÓLOGO

   Inspirado na Canção da Artilharia, ousamos descrevê-la na primeira pessoa.

   Propositadamente colocamos cada parágrafo isoladamente, para dar ênfase à leitura.

   Na mitologia grega a “Fênix” tornou-se um símbolo de força, do renascimento e da imortalidade.

INTRODUÇÃO

   Eu sou a FORTALEZA DE SANTO AMARO!

   Eu tinha a força do troar dos canhões; renasci aos 410 anos (1583/1993); e aguardo, impoluta, a imortalidade como Patrimônio Mundial.

   Eu sou a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande!

   Estou aqui desde 1583 desafiando o longo passar dos séculos, as intempéries e, por vezes, o terrível abandono...

   Ao completar 400 anos (1583 -1983) eu estava abandonada, vilipendiada, assaltada por vândalos, quase perdida na poeira do tempo, pelo descaso da sociedade que defendi com o troar dos meus canhões.

   Mas, das ruínas, ressurgi como a “Fênix”, por ações conjuntas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, da Sociedade Visconde de São Leopoldo, da Universidade Católica de Santos e da Prefeitura Municipal de Guarujá.

   Por mais de vinte anos (1993-2014) fui adotada pela UniSantos e, agora, hospedo o Museu Histórico da Fortaleza da Barra, administrado pela Prefeitura Municipal de Guarujá, SP.

   Foi assim que sobrevivi, enfrentando o longo passar dos séculos, às intempéries e, por vezes, ao terrível abandono.

   Foi assim também que ressurgi como o mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo.

   Fui concebida para “repelir inimigos”, corsários e piratas e hoje me dedico ao “receber amigos(as)”.

   Eu fui o “hub” de um fantástico sistema defensivo colonial do Porto de Santos, com três cortinas duplas de fortificações.

   A) ao Norte / Bertioga, o Forte de São Joao (1551) e o Forte de São Felipe (1557), substituído pelo Forte de São Luiz (1770);

   B) ao Sul /embocadura do Estuário, a Fortaleza de Santo Amaro (1584), o Forte Augusto (1734) e o Fortim do Góes (1767); E,

   C) ao centro (defesa aproximada), o Forte de Nossa Senhora do Monte Serrat (1543, demolido em 1876) e a Fortaleza de Vera Cruz do Itapema (1738).

   Para prover o apoio logístico: Casa do Trem Bélico (1734), hoje “hub” do Circuito dos Fortes.

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DESENVOLVIMENTO

   Eu sou a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande!

   Nasci sob o troar dos canhões, numa batalha ocorrida na Baía de Santos, na tarde de 24 de janeiro de 1583, entre navios da Invencível Armada espanhola e de um corsário inglês. E, sob minha proteção, surgiu o maior porto da América do Sul.

   Permita-me contar um pouco da minha história, ao longo de 440 anos (1583/2023), pois fui indicada para concorrer ao honroso título de Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e preciso do aval da gente que hoje vive no meu entorno.

   Minha “certificação de nascimento”, com 12 páginas manuscritas, está no Archivo General de Indias, Sevilha, Espanha, datado de 5/8/1583, charcas 41, Doc 27, página 6, do almirante Dom Diogo Flórez Vadés ao rei Felipe II de Espanha (Felipe I de Portugal).

   O almirante Valdés, “Capitão General das Costas do Brasil”, no início do longo período de união das coroas ibéricas (1580-1640), percorreu o litoral pouco recortado da América do Sul, com dezesseis naus da Invencível Armada espanhola, entre setembro de 1582 e maio de 1584.

   Além da missão principal que lhe foi atribuída por Felipe II - fortificar o Estreito de Magalhães e empossar o seu governador, Pedro Sarmiento de Gamboa -, Valdés aportou nas principais baías do Brasil-colônia para reconhecer, abastecer e indicar simbolicamente aos habitantes da terra que agora estavam sob domínio de Espanha.

   Três naus da esquadra espanhola (Almirante, Concepción e Begônia), sem condições de prosseguir ao Sul, retornaram da costa de Santa Catarina sob comando de Andrés Aquino e, na Baía de Santos, surpreenderam dois navios ingleses, sob comando de Edward Fenton, abastecendo para rumar o Estreito de Magalhães e alcançar o Oceano Pacífico.

   Houve um combate na tarde de 24 de janeiro de 1583, provavelmente diante do incipiente porto da Capitania de São Vicente, que ficava na embocadura do Estuário de Santos, onde está o “padrão português de posse da terra”, diante do qual sobrevivo até hoje.

   Fenton foi obrigado a retornar para a Inglaterra sem cumprir a sua missão, mas vingou-se em 1588 comandando o navio Mary Rose na batalha que destruiu a “Invencível Armada” de Felipe II.

   Mas (...), na Baía de Santos, Capitania de São Vicente, sob o troar dos canhões, o navio Santa Maria de Begônia sofreu avarias e parte do seu armamento e equipamento foi utilizado na minha construção, inicialmente em taipa militar, com desenho de Bautista Antonelli, arquiteto militar da esquadra de Valdés e membro da família Antonelli, construtora de sistemas defensivos na Europa, na África e na América, à serviço de Espanha.

   Dentre os cerca de 100 marinheiros espanhóis que ficaram em Santos, estava o carpinteiro Bartolomeu Bueno, o “espanhol”, pai de Jerônimo e Amador Bueno e avô do bandeirante de mesmo nome e conhecido como “Anhanguera.”

   Enfrentei outros combates contra piratas, corsários, aventureiros e, por mais de quatrocentos anos, ainda "vigio" todos as embarcações que singram as águas diante das minhas muralhas para atracar no Porto de Santos.

   Com o passar dos séculos fui ampliada, remodelada, e ganhei, no século XVIII, duas “sentinelas avançadas”: o Forte do Crasto (hoje Museu de Pesca) e o Fortim do Góes.

   Foi assim, com esta missão de vigilância e de “registro” (fiscalizar a movimentação marítima, verificar a situação sanitária e cobrar impostos), que surgi na encosta litorânea deste esporão rochoso, com vista para todas as praias da Baía de Santos e amplo domínio sobre a embocadura do estuário que abriga o maior porto da América do Sul.

   Na ativa por mais de trezentos anos, fui substituída em 1902 pela Fortaleza de Itaipu, voltada para o mar aberto, com vistas e fogos mais profundos. Mesmo assim, sem habilidade para o combate, ganhei no século XX uma moderna cobertura de aço cos-a-cor, com projeto de Lúcio Costa, um dos construtores de Brasília, e o enorme painel “Vento Vermelho”, de Manabu Mabe, cobrindo toda a parede do antigo altar da Capela de Santo Amaro.

   Em 2015 recebi dois canhões coloniais, instalados por soldados da Fortaleza de Itaipu, minha herdeira nesta longa jornada. Hoje, abrigo o Museu Histórico de Guarujá, SP, Brasil. Guardo lembranças de muitos séculos, ostento o título de Patrimônio Histórico Nacional (1967) e orgulho-me de estar na Lista Indicativa 2015 enviada à UNESCO para concorrer ao título de Patrimônio Mundial.

   Mas (...), talvez você leitor(a) prefira realizar uma “ronda interna” percorrendo uma trilha “camuflada” por exemplares sobreviventes da rica flora da Mata Atlântica. Você pode nos acompanhar por este pequeno vídeo produzido pelo Projeto Cultural da Universidade Católica de Santos:

   Recordo, o percurso interno de “Patrulha” do Programa de Estratégia Militar, com coordenadores jovens da FIESP/CIESP, do Estado de São Paulo, 28/03/2009, que realizamos para explorar as ruínas do paiol e do reduto [bunker] de defesa e contra-ataque, no topo do esporão rochoso.

   Perpetuar-me, para a eternidade, não é tarefa que posso cumprir sem uma firme manifestação de apoio da sociedade local sobre a importância da minha longa vida, vigiando as praias, os mares, os costões norte e sul da Baía de Santos e o estuário que abriga o maior porto da América do Sul.

   Até hoje, e como sempre, nenhum navio atraca no Porto de Santos sem “desfilar” diante das minhas espessas e rústicas muralhas de pedras, outrora guarnecidas com canhões de bronze, manobrados por homens construtores da minha História (parafraseando Adler Homero Fonseca de Castro, historiador do IPHAN).

   “As lições da História são como uma carta náutica para o navegante, a quem cabe escolher a rota a seguir e traçá-la devidamente na carta”. [Arnoud J. Toynbee].

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   Defender e Justificar: Iconografia de defesa do texto, créditos de imagens e referências básicas (Bibliografia): vide nºs 5 e 6 no final deste arquivo.

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2 - FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE GUARUJÁ, SÃO PAULO, BRASIL

   Com outro enfoque sobre a ave “Fênix”, símbolo de força, do renascimento e da imortalidade, apresentamos a seguir, todos os parágrafos iniciando com o nome da Fortaleza: Santo Amaro.

 

 

INTRODUÇÃO  

A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande tinha a força do troar dos canhões; renasceu aos 410 anos (1583/1993); e aguarda, impoluta, a imortalidade como Patrimônio Mundial. Desde 1583 ela vem desafiando o longo passar dos séculos, as intempéries e, por vezes, o terrível abandono. Ao completar 400 anos (1583 -1983) ela estava abandonada, vilipendiada, assaltada por vândalos, quase perdida na poeira do tempo e pelo descaso da sociedade que defendeu com o troar dos seus canhões.

   Por mais de vinte anos (1993-2014) foi adotada pela Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), e agora, hospeda o Museu Histórico da Fortaleza da Barra, administrado pela Prefeitura Municipal de Guarujá, SP. O seu nome, Santo Amaro, merece ser lembrado como símbolo de resistência, pois ressurgiu das ruínas, 400 anos depois, como o mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo, “hub” de um fantástico sistema defensivo colonial do maior porto da América do Sul.

 

DESENVOLVIMENTO

   Santo Amaro, diferente de outras fortificações coloniais, não foi somente um baluarte contra piratas, corsários e inimigos difusos. Foi, sobretudo, um símbolo de advertência do incontestável domínio de Felipe II, de Espanha, aos habitantes da Capitania de São Vicente e aos partidários da restauração do trono português.

   Santo Amaro possui fortes laços históricos com as mais importantes fortificações existentes no mundo: o sistema defensivo de Havana, as muralhas de Cartagena de Índias os fortes São Felipe de Porto Rico e de Alicante, na Espanha, foram projetados pelo mesmo arquiteto Bautista Antonelli e seus familiares, que trabalharam sob as ordens de Felipe II, no imenso império espanhol, especialmente na América Latina.

   Santo Amaro, assim como outras fortificações de origem espanhola, se apresenta como símbolo do reinado de Felipe II, rei de Espanha, também chamado de Felipe I em Portugal, durante o longo período de união das coroas ibéricas (1580-1640). Naquele longo período, piratas e corsários de reinos inimigos de Espanha fustigavam as rotas comerciais da coroa espanhola, obrigando-a a fortificar suas possessões ultramarinas.

   Santo Amaro surgiu, assim, a partir de 1583, como resultado de numa batalha corrida na Baía de Santos, na tarde de 24 de janeiro de 1583, entre navios da Invencível Armada espanhola e de um corsário inglês. Bautista Antonelli era o arquiteto militar da esquadra do almirante Diego Flórez de Valdés, composta por dezesseis (16) navios e que tenha por missão fortificar o Estreito de Magalhães, negando assim, o acesso aos seus inimigos ao Oceano Pacífico e protegendo seus interesses na América de origem espanhola.

   Santo Amaro é uma das poucas fortificações que possuem uma “certificação de nascimento”, com 12 páginas manuscritas, que se encontra no Archivo General de Indias, Sevilha, Espanha, datado de 5/8/1583, charcas 41, Doc 27, página 6, do almirante Dom Diogo Flórez Vadés ao rei Felipe II de Espanha (Felipe I de Portugal).

   Santo Amaro foi, portanto, uma obra creditada à esquadra do almirante Valdés, “Capitão General das Costas do Brasil”, no início do longo período de união das coroas ibéricas, quando percorreu o litoral pouco recortado da América do Sul, com dezesseis naus da Invencível Armada espanhola, entre setembro de 1582 e maio de 1584.

   Santo Amaro não fazia parte da missão principal de Valdés, atribuída por Felipe II, claramente indicada para fortificar o Estreito de Magalhães e empossar o seu governador, Pedro Sarmiento de Gamboa.

   Santo Amaro foi sim, um dos resultados do aportamento da esquadra de Valdés nas principais baías do Brasil-colônia para reconhecer, abastecer e indicar simbolicamente aos habitantes da terra que agora estavam sob domínio de Espanha.

   Santo Amaro surgiu de um acontecimento fortuito envolvendo três naus da esquadra espanhola (Almirante, Concepción e Begônia), as quaism não tendo condições de prosseguir ao Sul, retornaram da costa de Santa Catarina sob comando de Andrés Aquino e surpreenderam dois navios de Eduard Fenton, da Inglaterra, abastecendo para rumavam para o Oceano Pacífico.

   Santo Amaro surgiu de um combate na tarde de 24 de janeiro de 1583, provavelmente diante do incipiente porto da Capitania de São Vicente, que ficava exatamente diante da sua localização atual, do outro lado do canal de acesso ao Porto de Santos, tendo como resultado o retorno de Fenton para a Inglaterra sem cumprir a sua missão, mas vingou-se em 1588 comandando o navio Mary Rose na batalha que destruiu a “Invencível Armada” de Felipe II.

   Santo Amaro surgiu assim, na Baía de Santos, Capitania de São Vicente, sob o troar dos canhões, com avarias no navio Santa Maria de Begônia, e aproveitamento de parte do seu armamento e equipamento para a construção que se iniciaria logo após em taipa militar.

   Santo Amaro contou com a participação de cerca de 100 marinheiros espanhóis que ficaram em Santos para o cumprimento da missão de construí-la e, dentre eles, estava o carpinteiro Bartolomeu Bueno, o “espanhol”, pai de Jerônimo e Amador Bueno e avô do bandeirante de mesmo nome e conhecido como “Anhanguera.”

   Santo Amaro enfrentou outros combates contra piratas, corsários, aventureiro se, por mais de quatrocentos anos, vigiou todos as embarcações que singram as águas diante das suas muralhas para atracar no Porto de Santos.

   Santo Amaro foi sendo ampliada com o passar dos séculos e remodelada no século XVIII, ganhando duas “sentinelas avançadas”: o Forte do Crasto (hoje Museu de Pesca) e o Fortim do Góes.

   Santo Amaro cumpriu missões de vigilância e de “registro” do porto (fiscalizar, verificar a situação sanitária e cobrar impostos), e surgiu na extremidade do esporão rochoso que avança sobre o estreito canal de acesso ao Porto de Santos. Em 1902 foi substituída pela Fortaleza de Itaipu, voltada para o mar aberto.

   Santo Amaro sobrevive em exuberante posição, com vista para todas as praias da Baía de Santos e amplo domínio sobre a embocadura do estuário que abriga o maior porto da América do Sul.

   Santo Amaro, mesmo assim, sem habilidade para o combate, ganhou no século XX uma moderna cobertura de aço cos-a-cor, com projeto de Lúcio Costa, um dos construtores de Brasília, e o enorme painel “Vento Vermelho”, de Manabu Mabe, cobrindo toda a parede do antigo altar da Capela de Santo Amaro.

   Santa Amaro recebeu, em 2015, dois canhões coloniais, instalados por soldados da Fortaleza de Itaipu, herdeira de uma longa jornada e hoje, abrigo o Museu Histórico de Guarujá, SP, Brasil.

   Santo Amaro guarda lembranças de muitos séculos, ostenta o título de Patrimônio Histórico Nacional (1967) e hoje está na Lista Indicativa 2015 enviada à UNESCO para concorrer ao título de Patrimônio Mundial.

   Santo Amaro dispõe de uma trilha “camuflada” por exemplares sobreviventes da rica flora da Mata Atlântica e que leva às ruínas do paiol e do reduto [bunker] de defesa e contra-ataque, no topo do esporão rochoso que abriga a fortaleza do Século XVI.

 

CONCLUSÃO

   Perpetuar a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande para a eternidade, não é tarefa que se possa cumprir sem uma firme manifestação de apoio da sociedade local sobre a importância da preservação do mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo. É preciso somar forças para que se possa reconhecer que a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande tem uma longa vida, vigiando as praias, os mares, os costões norte e sul da Baía de Santos e o estuário que abriga o maior porto da América do Sul. Até hoje, e como sempre, nenhum navio atraca no Porto de Santos sem “desfilar” diante das suas espessas e rústicas muralhas de pedras, outrora guarnecidas com canhões de bronze, manobrados por homens construtores da minha História (parafraseando Adler Homero Fonseca de Castro, historiador do IPHAN).

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Defender e Justificar: Iconografia de defesa do texto, créditos de imagens e referências básicas (Bibliografia): vide nºs 5 e 6 no final deste arquivo.

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3 - FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE:

   A História, a batalha, as crônicas, as intenções.

   A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande tinha a força do troar dos canhões, renasceu aos 410 anos (1584/1994) e, aguarda, impoluta, a imortalidade como Patrimônio Cultural da Humanidade.

   Uma trajetória histórica que se assemelha à vida da ave “Fênix” na mitologia grega, como símbolo de força, do renascimento e da imortalidade.

 

INTRODUÇÃO

   Dezenove (19) fortificações coloniais que permeiam o vasto perímetro do Brasil – dentre as quais a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), Guarujá, e o Forte de São João (1551), Bertioga – foram indicadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para ascenderem de Patrimônio Histórico Nacional à Patrimônio Mundial, como parte de um “conjunto de bens seriados”. Esperava-se que isso ocorresse em 2022, ano do Bicentenário da Independência do Brasil. Mas, o temor intenso que se abateu sobre todos nós, mundo afora (Covid 19), alterou os planos iniciais pois uma Comissão Técnica Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) não puderam realizar a visita “in loco”, aprovando ou não, no todo ou em parte, a proposta brasileira. O período de avaliação (2016 a 2025) é propositadamente longo para dar aos gestores dos bens patrimoniais indicados um prazo razoável para a implementação de atos de preparação, de consolidação e, sobretudo, de conscientização da população que vive nos entornos dos monumentos, nos municípios e nos dez (10) estados federativos representados em conjunto, para assim, alcançar o reconhecimento universal. O IPHAN enviou à UNESCO, em fevereiro de 2021, um dossiê preliminar com 543 páginas e agora procura cumprir as exigências normais em qualquer projeto indicativo.

 

DESENVOLVIMENTO

   A saudosa jornalista Lydia Federici (1919-1994) publicou, num curto espaço de dezesseis meses (out. 1991/jul. 1993), 13 crônicas sequenciais na sua coluna quinzenal, no jornal A TRIBUNA - “Gente e Coisas da Cidade” – incentivando os trabalhos de restauração da Fortaleza de Santo Amaro, Guarujá, SP, em execução pelo IPHAN, no final do Século XX. As crónicas eram verdadeiros registros informais dos encontros regulares da Comissão Pró-Fortaleza que ocorriam na Reitoria da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS).

   Julgamos, portanto, oportuno recordar algumas colocações da jornalista e tomar como exemplo o Rio de Janeiro que acaba de obter o quarto título mundial pela UNESCO: 2021, Sitio Burle Marx; 2019, Paraty; 2017, Cais do Valongo; e, 2012, Paisagem Urbana. Por incrível que pareça, o Estado de São Paulo não possui nenhum bem patrimonial com esta distinção universal, e isto nos leva a uma das indagações da saudosa jornalista: “qual será o segredo?” O que é que o Rio de Janeiro e outros estados da federação fazem para “manter seus monumentos históricos muito bem arrumados e prontos para a visitação pública?” (Crônica de 18.02.93).

   Tivemos a grata satisfação de publicar uma resenha sobre as crônicas da jornalista na Revista Leopoldianum da UNISANTOS (nº 55, vol. XIX, 1993) e ela, sem poder ver a Fortaleza de Santo Amaro restaurada, encerrou seu último artigo (30 de julho de 1993) com uma mensagem de esperança: "Viva o reaparecimento do telhadinho, simbolizando a força interior do santista de ontem e de hoje". Referia-se à antiga Capela de Santo Amaro utilizada à época para abrigar o pessoal que iria dar início a um ambicioso projeto de cobertura e proteção das ruinas, com uma enorme estrutura de aço “cos-a-cor”, tipo “guarda-chuva”, apoiada somente nas quatro extremidades das rústicas paredes da fortificação colonial de origem espanhola, erguida a partir de 1584. O projeto de restauração, sem ferir a Carta Internacional de Veneza (1964), foi do arquiteto Lúcio Costa e a execução à cargo do Arquiteto do IPHAN, Victor Hugo Mori.

   Lydia não pode nos brindar com a saudação que caracterizou o seu legado sobre o maior conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo. Por esta e outras razões sentimentais, tomamos a liberdade de republicar parte do texto original constante da referida Revista Leopoldianum: A História, as batalhas, as crônicas, as intenções.

   “Salve a Espanha. Que há séculos a construiu!”

   A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, Guarujá, SP,  baluarte do sistema defensivo do Porto de Santos na Colônia, no Império e no início a República do Brasil (1583 / 1902) está entre as poucas fortificações  do mundo que possuem “certificação de nascimento”, em registro de doze páginas manuscritas que se encontra no Archivo General de Indias, Sevilla, Espanha, datado de 5/8/1583, chacas 41, Doc 27, págs 6, do segundo relatório  enviado pelo almirante Dom Deigo Flores Valdés ao rei Felipe II de Espanha (Felipe I de Portugal).

   No último quartil do Século XX o arquiteto Victor Hugo Mori, do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), hoje IPHAN, assim se expressou:

   “A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande corre o risco de receber a classificação de ruínas, pelas normas previstas na Carta Internacional de Veneza, Itália, 1964, o que impediria sua restauração”.

   Este “alerta” deu início a uma verdadeira “batalha de salvamento” do mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo, tão bem descrita pela saudosa jornalista Lydia Federici em nada menos que treze (13) crônicas na sua coluna "Gente e coisas da Cidade”, do Jornal A TRIBUNA de Santos, num curto espaço de ano e meio (out.1991/jul.1993). Naquele mesmo espaço de tempo atuávamos como coordenador da Editora Universitária da UniSantos e tivemos a honra de dividir com a Lydia o “registro” das atividades desenvolvidas pelos membros voluntários da Comissão Pró-Fortaleza, capitaneados pela professora Carmen Lydia Dias Carvalho Lima, da Universidade Católica de Santos.

   Na Revista Leopoldianum nº 55, Vol. XIX, 1993, registramos “A História, a batalha, as crônicas, as intenções” empreendidas por todos os membros da referida comissão, com destaque para as treze crônicas da jornalista que serviram de inspiração para todos nós. Nada mais justo que retomá-las diante dos acontecimentos recentes que podem levar o Estado de São Paulo a obter o primeiro (talvez dois) título de Patrimônio Mundial pela UNESCO.

    Na primeira crônica, "Sonho irrealizado", 09. 10.91, a jornalista deu publicidade à campanha Pró-restauração da Fortaleza, com destaque para o período de união das coroas ibéricas e seus fundamentos históricos centrados no troar dos canhões de uma batalha ocorrida na Baía de Santos, na tarde de 24 de janeiro de 1583, entre navios da Invencível Armada espanhola e de um corsário inglês, concluindo suas citações com uma significativa saudação:

   "Salve a Espanha. Que há séculos a construiu!".

   A segunda crônica, "O paredão demolidor", 04.12.91, destacou a pressão da comunidade regional que aflorou espontaneamente nos outros encontros promovidos e liderados pela UniSantos:

   "A Fortaleza, hoje, é, a cada dia mais, um amontoado, triste, desordenado, das ruínas a que o precioso monumento de nossa história ficou reduzido. Saqueada, roubada, com uns restos de grandeza, é de cortar o coração. ‘Vamos a mais essa luta! ’", conclama a jornalista.

   Naquele mês de dezembro de 1991, o IBPC mandou reconstruir uma coluna dos arcos do pavilhão principal, cujos tijolos haviam sido arrancados pelos marginais e vândalos que habitavam o local. Os técnicos do IBPC perceberam a gravidade da situação:_ era preciso retomar a área invadida e reassumir o controle da “praça de guerra”, protegida por espessas e rústicas muralhas de pedra outrora guarnecidas com canhões colônias, manobrados por homens construtores da nossa História.

   Na crônica "Para segurar as paredes", 02.03.92”, Lydia dá um alerta sobre a urgência de outras obras de preparação para uma restauração futura:

   “O fato é que a Fortaleza da Barra Grande está, agora, por um fio. Ou o grupo dos que a amam e admiram – apesar de ser ela toda uma ruína – consegue ampará-la, evitar que suma de vez, ou, numa ponta de morro, do outro lado do canal que dá acesso ao maior porto do Brasil, nada mais restará para ser fotografado. Sequer como ruína do velho monumento"...

   Para “segurar as paredes” prestes a desabar, prossegue a jornalista com outra ideia-força:

   "Pois bem. A recuperação de uma Fortaleza é fácil! Porque ela é simples. Rústica. A decisão de intentar tal recuperação tem sido, desde o início da formação da Comissão pró-Fortaleza da Barra Grande, que a UniSantos encampou, sim, seu grande objetivo. Cada elemento, com sua equipe, tem sido incansável na procura da solução. E em sua posterior aplicação".

   No primeiro semestre de 1992, exposições itinerantes, visitas de colégios, artigos para a imprensa e outras formas de divulgação foram usadas para "chamar a atenção das autoridades e do público em geral". Lydia, sabiamente, destacou aquele que seria o primeiro e mais significativo movimento popular promovido pela própria comunidade de Santa Cruz dos Navegantes: "Samba na Fortaleza'?", 07.05.92.

   Para o segundo semestre do ano comemorativo dos 500 anos do Descobrimento da América (02.10.1492), esperava-se iniciar uma nova história de outros 500 anos para a Fortaleza. Mas a "Festa gorada", 12.10.92, acabou não sendo tão ruim ... algumas mensagens já haviam sensibilizado os órgãos públicos responsáveis.

   Na crônica "Fortaleza e Praia do Tombo", 21.11.92, a autora sugeriu um caminho alternativo entre Santos e Guarujá. Quatro minutos de travessia Ponta da Praia/Santa Cruz dos Navegantes, mais dez minutos de ônibus, em linha regular, através de seis quilômetros de estrada asfaltada, correndo por encostas e muito verde, até alcançar a Praia do Tombo. Foi uma mensagem de início de verão que, infelizmente, nenhum surfista ou jovem amante das praias ou da natureza conseguiu entender ou por ela se interessar.

   Primeiro dia útil de um novo ano e Lydia mostra claramente sua disposição de prosseguir na busca de uma solução para o problema. "Uma destinação para Fortaleza", 02.01.93, apresentou uma ideia capaz de movê-la por dinheiro:

   “... que não pegou! Resta, portanto, dar ao monumento uma destinação sociocultural, com recursos provenientes da ‘Lei Rouanet’, que tem por finalidade captar e canalizar rendimento abatidos no Imposto de Renda e destinados a restaurar, preservar e conservar bens tombados pelo IBPC ..."

   Prosseguindo com sua “doutrinação”, mais uma vez a autora mexe com o brio do paulista e pergunta:

   "Qual será o segredo da Bahia'?" 18.02.93, que mantém seus monumentos históricos muito bem arrumados e prontos para a visitação pública? ”

   "Não conseguiremos segui-lo? O que não temos que o baiano tem de sobra?"

   "Até que enfim! ”, 15.03.93. Esta crônica destaca a importância do projeto aprovado pela Diretoria de Proteção do Ministério da Cultura, destinando alguns poucos recursos ao IBPC/SP – suficientes para restabelecer os serviços de água, luz e esgoto; criar as condições mínimas de moradia para um caseiro e sobrepor um telhado de "caibro armado" na Capela, salvando-a do desabamento. Os antigos banheiros do extinto Círculo Militar de Santos (1965) foram transformados em salas de aula, começando assim a serem utilizadas para eventos educacionais e culturais, programados pelo Núcleo de Extensão Comunitária e pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de Guarujá.

   Para testar a exequibilidade do empreendimento, o primeiro evento cultural seguiu-se de imediato e com muito sucesso. "Via-sacra diferente”, 07.04.93, acabou sendo uma manifestação cívica promovida pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de Guarujá, com total apoio da UNISANTOS e da Comissão Pró-Fortaleza. O povo de Santa Cruz dos Navegantes e da Praia do Góis esteve presente. Mais de duzentos convidados assinaram o livro de visitas e participaram desse grandioso ato de fé e esperança, com ofício religioso e participação do Coral da Prefeitura Guarujá e do Coral Gregoriano da UNSANTOS.

   Dois dias após, na sexta-feira da Paixão, em outra crônica, "Momentos de elevação espiritual", 09.04.93, Lydia Federici mostrou sua fé e esperança na vontade de Deus, dando destaque às comemorações da Semana Santa, que acabaram acontecendo na Fortaleza da Barra Grande.

   0 último semestre daquele ano de 1993 começou com duas crônicas seguidas –"Telhados (1) e (II)", 29 e 30.07.93 –, destacando os disparados dos canhões dos fortes e fortalezas que alertavam toda a Capitania de São Paulo para sinais de perigo:

   "logo que se reconhece o signal de rebate geral, deve chegar sem perda de tempo toda a tropa de Guarnição a postos para os guarnecer pondo-se em estado de deffeza" (do Plano de defesa da Capitania, de dezembro de 1880).

   Lydia termina assim, sua última crônica, no primeiro mês do último semestre de 1993:

   "Agora, quando dentre todos os que, da Ponta da Praia descobrem, contra a encosta   verde, o risco vermelho da Capela, nenhum deixa de sentir que também ora: pela memória dos soldados. E pela sobrevivência que eles com suas armas e súplicas, haviam garantido para Santos. A sua própria existência. Viva o reaparecimento do telhadinho. Simbolizando a força interior do santista de ontem e de hoje".

   Talvez, inspirada no lema da Artilharia (ultima ragio regis), Lydia deu o seu último recado:

   "Pois é isso. Então, ao menos em imaginação, ajude, amigo, com maior ou menor força que você tem, a segurar as paredes da antiga Fortaleza da Barra, Tá?"

   Painel Vento Vermelho, Manabu Mabe, Capela da Fortaleza de Santo Amaro. Fotomontagem de Victor Hugo Mori. Paneis das dezenove fortificações coloniais indicadas para o Patrimônio Mundial.

PERTENCIMENTO

     No dia 7 de novembro de 2023, o Jornal A TRIBUNA publicou, na coluna Tribuna Livre um artigo síntese sobre o longo caminho percorrido no final do século 20 sobre a “A História, a batalha, as crônicas, as intenções”, de uma operação de salvamento do mais expressivo conjunto arquitetônico militar colonial do Estado de São Paulo. Neste ano de 2023 completou-se 440 anos de confronto naval ocorrida na embocadura do Estuário de Santos, na tarde de 24 de janeiro de 1583, dando origem ao projeto elaborado pelo arquiteto militar Bautista Antonelli, da esquadra do almirante Diego Flores Valdés, de Espanha, conforme descrito acima. Já é um passo enorme para o a interpretação da última palavra – Tá? –  da saudosa jornalista Lydia Federici.

CONCLUSÃO

   Foi assim, ou quase assim – em busca de segurança e defesa – que o Porto de Santos se desenvolveu a partir do Lagamar de Enguaguaçu, tendo a Leste a proteção natural da Ilha de Santo Amaro e, no seu entorno, um complexo sistema colonial de defesa, em três linhas sucessivas, sob o comando da Fortaleza de Santo Amaro (“hub” do sistema de alerta). Estas linhas sucessivas de defesa estão ilustradas – com pouca prosa e muita iconografia – no livro digital PORTO DE SANTOS: Armada no mar & Bandeiras na terra, disponível na aba de extensão universitária do portal da UNISANTOS

  Para saber mais, sobre a história militar que se iniciou na Baixada Santista, "por mares pouco navegados e terras nunca dantes exploradas" (parafraseando Camões). Consulte o E-book Porto de Santos: Armada no mar & Bandeira na terra. e, ( < ) duas vezes, para retornar:

   Estamos, portanto, à vontade para rever estes fatos importantes que remontam ao final do século XX quando se iniciaram as tratativas de ocupação acadêmica da recém-restaurada Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, que hoje abriga o Museu Histórico de Guarujá. Nós, da Academia Santista de Letras, sem compromissos formais, observamos este projeto tal qual se enxerga a trajetória de um arco-íris em busca de um pote de ouro (lenda irlandesa de autor desconhecido). Por ora, estamos ainda no ramo ascendente deste arco-íris imaginário, buscando a iluminação por meio de inúmeras constelações e estrelas que gravitam no seu entorno.

   “O fato é que a Fortaleza da Barra Grande está, agora, por um fio” (Lydia Federici) nos permite dizer que o “pertencimento” é a única ação que independe dos técnicos do IPHAN, pois, com recursos escassos corremos o risco de não chegar a bom termo. De qualquer forma, alcançar o pote de ouro não é tão importante quando ao fato de termos percorrido uma longa trajetória infelizmente pouco iluminada por estrelas e constelações que apenas apreciam a longo trajeto que traçamos por desprendimento deferentes grupos de voluntários, Brasil afora, convocados pelo IPHAN para um “serviço público relevante, sem remuneração”.

   Por fim, um grupo de voluntários, membros do International Scientific Comittee on Fortificatios (ICOFORT) se empenha na busca de poucos recursos para elaborar o projeto complementar em atendimento às exigências indicadas no dossiê enviado à UNESCO em fevereiro de 2021.

    Obs: O assunto constante deste artigo foi abordado pelo autor no 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil, Belo Horizonte, 9 a 12 de maio de 2017, representando a Academia de História Militar Terrestre do Brasil – http://www.ahimtb.org.br –, onde ocupa a Cadeira do santista, General Luiz de Sá Affonseca.

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Defender e Justificar: Iconografia de defesa do texto, créditos de imagens e referências básicas (Bibliografia): vide nºs 5 e 6 no final deste arquivo.

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4 - "SENTINELAS INVISÍVEIS"

Preâmbulo

   Dois postos de observação (PO) do antigo sistema coloniais de defesa do Porto de Santos, construídos no Século XVIII, permaneceram “secretos” até o início do Século XX, quando a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), Guarujá, SP, foi substituída pela Fortaleza de Itaipu (1902), Praia Grande, SP. Mas, suas ruínas permanecem “invisíveis”, na embocadura do Estuário de Santos, cobertas pela Mata Atlântica que  floresce na pequena serra litorânea que moldura o costão Leste da Baía de Santos, estendendo-se até alcançar o Forte dos Andradas (1942), Guarujá, SP, voltado para o mar aberto.

   Figura 1 - A – Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584). B – Fortim do Góes (1765), Guarujá, SP. 1 - Reduto e paiol de munição, 2 - Reduto e fonte de água doce. Detalhes: 3 e 4 - reduto e do paiol de munição, 5 e 6 – reduto e fonte de água doce. Victor Hugo Mori, fotomontagens panorâmicas, Ivan Di Ferraz e Valter Novaes de Sousa, fotos pontuais.

   Os POs militares (números 1 e 2 na fotomontagem acima) descritos sumariamente nesta pesquisa exploratória e de campo, estão situados na margem esquerda do Porto de Santos, tendo à frente, na margem direita e a cerca de 400 m [sobre o mar], um dos bairros mais valorizados da Cidade de Santos: a Ponta da Praia. Felizmente permanecem “invisíveis”, sob frondosas arvores e mata ripária, e assim esperamos que continuem por séculos à frente.

           

DESENVOLVIMENTO

   Pesquisas de campo e relatos históricos

   Dois postos de observação (1 e 2, Figura 1), construídos no Século XVIII, se escondem sob as árvores frondosas da Mata Atlântica, no Morro dos Limões, Guarujá, SP, na margem esquerda da embocadura do estuário que abriga o Porto de Santos. São “invisíveis” para quem olha para eles a partir de qualquer das praias da Baía de Santos, mas deles é possível observar: o mar e a orla marítima; o acesso ao porto, os edifícios e os morros próximos; as escarpas da Serra do Mar e o infinito céu azul em dias ensolarados. Eles eram utilizados para vigiar e expedir alertas sobre a presença de naus suspeitas de piratas ou de corsários, além de outras funções militares, dentre elas a de servirem como bases de retraimento [segunda linha de defesa], caso a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande e/ou o Fortim do Góes (A e B, Figura 1) fossem tomados de assalto.

   Desde os primórdios da colonização do Brasil até o final do ano de 1985, quando se iniciou a extinção da Artilharia de Costa (Decreto nº 92.172, de 18/12/1985), as fortificações ativas sempre tiveram acessos restritos, por questões óbvias. Os postos de observação (POs), com maior rigor ainda, pois abrigavam os observadores e condutores dos tiros de artilharia.

   Os dois POs do Morro dos Limões [ou, Cheira Limão, na linguagem de época] merecem ser analisados por uma visão estratégica ampla dos portugueses – admirável e impressionante – sobre a ocupação das áreas geográficas escolhidas para as primeiras etapas da colonização do Brasil. Era preciso, dentre outros fatores relevantes, ter água doce nas proximidades e proteção militar edificada ou natural contra o troar dos canhões dos piratas e dos corsários. A Baía de São Vicente, onde já havia uma pequena Povoação, deu início à ocupação sistemática do litoral paulista e conta com uma bica d’água perene no sopé do Morro do Tumiaru, atualmente Morro dos Barbosas, popularmente conhecido como Morro da Biquinha. A defesa natural era razoável, por conta da dificuldade de acesso para naus oceânicas com quilhas enormes, devido à pouca profundidade do canal marítimo que se abre entre a Ilha Porchat e a área continental, na chamada “Garganta do Diabo”, na linguagem popular.

   As naus lançavam âncoras na embocadura do estuário de Santos, aproveitando a proteção natural do Morro dos Limões [Guarujá], além da existência de uma fonte de água doce e de uma plantação de limões, importante para o combate ao escorbuto. O local de ancoragem das naus não possuía trapiche, ficava longe do Povoado de São Vicente, e as operações de embarque e desembarque eram feitas por escaleres. Aquela posição primitiva de ancoragem está hoje assinalada com uma réplica do “padrão português de posse da terra”, semelhante ao que existe em Sagres, Portugal.

   Avançando um pouco mais nesta dupla abordagem – água doce e proteção contra possíveis ataques de piratas ou de corsários – a “Nova Povoação” [hoje Cidade de Santos], surgiu nas proximidades da fonte de água doce do “Itororó”, na parte inferior da encosta do Monte Serrat, nascente de um riacho que alcança o Lagamar de Enguaguaçu.

   O Monte Serrat tinha o nome de Morro da Vigia, pela amplitude da visão de todo o entorno plano do Estuário da Santos e lá existia um outro PO, não abordado neste ensaio educacional. Por sua vez, o Lagamar era ideal para a manobra das caravelas e naus, sem o apoio de rebocadores, como ocorre hoje em dia com navios bem maiores. Mas, a Nova Povoação, como outras Brasil afora, precisava ter a segurança garantida na defesa terrestre aproximada, pois era uma das atribuições dos donatários (regime de direito de exploração da terra, oficialmente implantados, a partir de 1534).

   Figura 2 - Forte de Nossa Senhora do Monte Serrat (1543), à esquerda. Planta do Século XVIII, “Vila e praça de Santos”, Biblioteca Nacional. O desenho acima destaca a Fortaleza de Itapema (à direita), o Outeiro de Santa Catarina, a Casa do Trem Bélico, o Forte de Nossa Senhora do Monte Serrat, a Igreja e o Colégio Jesuíta de São Miguel da Vila de Santos (1585-1759).

   E, assim, surgiu o Forte de Nossa Senhora do Monte Serrat: “O forte [sic] foi iniciado a partir de 1543 por determinação de Brás Cubas para defesa das gentes do povoado [sic] de Santos, ante as repetidas incursões dos tamoios” (SOUZA, 1885), ou seja, antes do início da ocupação oficial da “Nova Povoação”, em 1544.

   Infelizmente, daquela fortificação colonial, só nos resta a triste memória do seu desmonte, descrito pelo arquiteto Victor Hugo Mori, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN: “o pequeno reduto voltado para o Porto de Santos foi demolido em 1876, para dar lugar ao prédio da Alfândega” (MORI, 2003), e “os remanescentes do forte [sic] foram aproveitados para a instalação da Guarda-moria, e a construção de um galpão da Alfândega” (GARRIDO, 1940). Consta ainda ser provável que as pedras da primeira fortificação erguida da Ilha de São Vicente (vide Figura 2), tenham sido utilizadas na construção dos primeiros metros do cais de atracação, dando início ao chamado “Porto Organizado”. O sufixo de qualidade (organizado) justifica a existência de uma memória anterior, eternizada nas obras de Benedicto Calixto (1853-1927), exibindo trapiches com naus à vela, antes do cais de pedras. Porém, Nossa Senhora do Monte Serrat tornou-se perene como Padroeira da Cidade de Santos.

   Depois desta breve digressão, voltamos a analisar a importância da água doce e da proteção militar edificada, por meio de um acontecimento histórico, ocorrido nos idos de 1615. Visconde de Taunay, em Na Era das Bandeiras, no capítulo “Um Assalto a Santos”, descreve com precisão a presença do corsário holandês, Joris van Spilbergen em Santos e São Vicente (TAUNAY, 1922), tendo como fonte de consulta o relato de Spilbergen e os mapas do livro do holandês Reys-Boeck, Livro de viagem ao reino Brasileiro, Rio da Prata e Estreito de Magalhães, publicado em 1624 (MORI, 2003). TAUNAY, ressalta que o corsário pode abastecer a sua esquadra com água na fonte do Morro dos Limões e colher os frutos, sendo pouco contestado, por questões humanitárias. Negada, porém, autorização para aquisição de víveres a fim de prosseguir para o Sul e alcançar o Oceano Pacífico, Spilbergen ordenou ataques às duas vilas e aos engenhos da região, saqueados e incendiados, sem qualquer resistência militar.

   Agora sim, creio que podemos analisar melhor a existência dos dois POs (1 e 2, Figura 1), para os militares observarem sem serem observados. Ambos foram construídos no Século XVIII, com pedras talhadas, assentadas em plataformas escavadas na rocha bruta e protegidos por pequenas muralhas rústicas para a manobra de canhões e o uso de outras armas de defesa aproximada.

   O PO de número 1, situado no topo do esporão rochoso que abriga a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, popularmente conhecida como Fortaleza Velha, ou Fortaleza da Barra, tinha uma escavação profunda na contra encosta, para servir como paiol de munição de artilharia. O paiol era uma construção singular, com paredes duplas para circular o ar e manter a pólvora em temperatura ambiente. A parede interna possuía pequenas aberturas para ventilação, esculpidas no formato de cunha (<), para que os ratos não pudessem alcançar e comer a pólvora.

   O outro PO, número 2, se encontra em ruínas na crista militar do Morro dos Limões, entre as duas fortificações (A e B, Figura 1). Servia também para proteger a fonte de água doce e a plantação de limões, provavelmente ocupando a enorme área descampada que se observa hoje, a partir das praias da Baía de Santos.

 

Concluindo

   Por fim, compreende-se a situação de obsoletismo do antigo sistema defensivo do Porto de Santos, mas não o desprezo pela nossa História Colonial. As ruínas dos dois redutos “invisíveis”, são hoje apenas “testemunhas de pedras”, para as quais nos resta apenas incentivar a visita virtual ao que sobrou. Por serem de difíceis acessos, as visitas locais são acompanhadas pelo guia de turismo da Prefeitura de Guarujá e devem ser agendadas com antecedência no website do Museu Fortaleza de Santo Amaro.

   O historiador do IPHAN, Adler Homero Fonseca de Castro, nos dá o incentivo para uma mudança de postura sobre as fortificações coloniais sobreviventes ao longo do vasto perímetro do Brasil, titulando de forma emblemática a coleção de quatro volumes do compêndio sobre as nossas fortificações: “Muralhas de pedras, Canhões de bronze e Homens de ferro”.

   As muralhas do antigo sistema colonial do Porto de Santos, outrora guarnecidas com canhões coloniais eram manobrados por homens construtores da nossa História Regional.

 

 Agradecimentos

   À Profa. Dra. Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, professora da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS) e membro atuante da Academia Santista de Letras (ASL), pela orientação sobre a histórica regional e atendimento exemplar que sempre dispensa às confreiras e confrades que a procuram. Com a mesma presteza em assuntos relacionados com o sistema defensivo do Porto de Santos, agradecemos ao amigo, Victor Hugo Mori, arquiteto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pela execução, no final do Século XX, do fantástico projeto de restauração da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande. Ambos me permitiram aprofundar um pouco mais nesta pequena narrativa sobre um sistema defensivo secular, ativo no Brasil, desde o início do longo período colonial, (primeiro quartil do Século XVI) até a extinção da Artilharia de Costa, no final último quartil do Século XX.

 

Bibliografia e fontes consultadas

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de pedras, Canhões de bronze, Homens de ferro. Fundação Cultural Exército Brasileiro, 2009, 476 p., Rio de Janeiro, RJ.

PAUL Clotilde; Secomandi, Elcio Rogerio. Porto e Santos: Armada no mar & Bandeira na terra. Navegar Editora, 3ª edição, 2014, São Paulo, SP.

GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Imprensa Naval, v. 3, pp. 279-459, 1940, Rio de Janeiro, RJ.

SOUZA, Augusto Fausto de. Fortificações do Brasil, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (RIHGB), p. 117. Rio de Janeiro. Tomo XLVIII, Parte II, 1885.

MORI, Victor Hugo. Arquitetura Militar: Um panorama a partir do Porto de Santos. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Fundação Cultural Exército Brasileiro, p. 199 e p. 187 - 188, 2003, São Paulo, SP.

TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. “Um assalto a Santos”, in Na Era das Bandeiras. Ed. Melhoramentos. São Paulo, 2ª Ed, p. 61-67, 1922, São Paulo, SP.

Fontes

Relatos verbais, presenciais e via Internet.

Universidade Católica de Santos, vídeo Na Trilha da Fortaleza, Projeto Cultural UNISANTOS, Santos, 1999.

Decreto Federal nº 92.172, de 18 de dezembro de 1985, dando início da extinção da Artilharia de Costa do Brasil.

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4 - LIVRO DIGITAL

O >  LIVRO COMPLETO > está na plataforma mundial “Academia.edu”(*), na página do autor deste projeto educacional.

(*) Academia.edu é uma plataforma educacional que abriga, atualmente, mais de 47 milhões de trabalhos acadêmicos (papers) mundo afora e tem objetivo bem definido: “Acelerar a pesquisa no mundo” (10/01/2014).

Para retornar da plataforma acaddemia.edu, clique duas vezes (<)

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5 - DEFENDER - Vide abaixo algumas imagens sobre o projeto de restauração da Fortaleza de Santo Amaro, no final do Século XX.

   O conjunto completo de imagens iconográficas estão no livro digital usado como fonte básica de consulta.

   FOTOS DO ARQUITETO VICTOR HUGO MORI sobre o projeto de restauração da Fortaleza de Santo Amaro no final do Século XX (como estava e como ficou após as obras de restauração).