AUTOBIOGRAFIA MOTIVADORA

Elcio Rogerio Secomandi, Ph D, Coronel de Artilharia (reformado), Professor Emérito da Universidade Católica de Santos

Duas grandezas me abraçaram, nos caminhos imprevisíveis do destino
"Nem cora o sabre de ombrear co’ o livro, Nem cora o livro de chama-lo irmão" - Castro Alves

Professar, propagar, preconizar, apregoar, incentivar (...), são atributos inerentes ao exercício do magistério. Com este “espírito acadêmico” espero justificar a ousadia de incluir uma autobiografia, com formato de “história oral e curricular”, no projeto de extensão universitária disponível no site: www.unisantos.br/fortifications

Após 35 no Exército Brasileiro e 25 no Magistério Superior, dirijo-me aos jovens, com o mesmo entusiasmo que me levou ao mérito militar e ao emérito acadêmico, em iguais oportunidades para quem procura a carreira militar e/ou acadêmica, com a visão filosófica de Blaíse Pascal (1623-1662): “a sorte ajuda a mente preparada”. Muitos jovens divulgam suas aptidões acadêmicas e profissionais em busca de um futuro promissor, o que é recomendável. Pela minha idade, claro está o simples desejo de explorar três palavras-chave – recordação, reconhecimento e esperança.

Recordo minha infância numa fazenda de café, no interior do Estado do Espírito Santo (Cavalinho, Km 103 da antiga Estrada de Ferro Vitória a Minas), devastada na década de 1930/40 pela queima do café, ordenada pelo governo para “manter preços de mercado”, e pelos reflexos econômicos da 2ª Guerra Mundial. Precedido por três irmãos mais velhos, cheguei a São Paulo, com minha mãe e mais dois irmãos menores; e vivemos incialmente em duas antigas baias para cavalos, adaptadas para nos abrigar, numa mansão de parentes ricos que se comoveram com a situação comum naquela época, para quem dependia do cultivo do café. Uma viagem inesquecível e impraticável hoje em dia, pois viemos de trem (Vitória a Minas, Leopoldina e Central do Brasil). Em São Paulo, frequentei o Convento São Francisco e o Colégio Coração de Jesus: aos 18 anos de idade fui convocado para o Serviço Militar obrigatório como soldado da Cia Cmdo da EsPCEx, São Paulo. Por ter a mente preparada e bom preparo físico, ingressei mediante concurso público na Escola Preparatória de Cadetes, trocando minha farda de soldado pela de aluno da EsPCEx.

Reconheço e agradeço ao Exército Brasileiro pela oportunidade de cursar as principais escolas militares de graduação (AMAN) e de pós-graduação, seguidas por convites para o Corpo Permanente (professor) da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) e do Centro de Estudos de Pessoal (CEP), Forte Duque de Caxias. Encerrei minha carreira militar com “serviço nacional relevante”, no comando de uma unidade especial de Artilharia de Campanha, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, articulada a uma Brigada de Cavalaria, vigilante da fronteira oeste do Brasil. Recebi as condecorações de bons serviços prestados por mais de 35 anos e a Ordem de Mérito Militar, no grau de Cavaleiro, outorgada pelo Presidente da República, por indicação dos meus pares.

Na área acadêmica, recém-formado em Economia (1967), ingressei na Universidade Católica de Santos, como professor de Microeconomia e, após seguir minha carreira militar Brasil afora, retornei como titular da Cadeira de Planejamento Estratégico, pelos meus estudos sobre Ciências Militares (ECEME, dois anos em regime integral) e de pós-graduação em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, SP (dois anos e meio). Na UniSantos, em regime de tempo integral, dedicação exclusiva e reconhecimento de doutorado, exerci diversas funções administrativas, dentre as quais: presidente da Fundação Dom David, para conceder bolsas de estudos para jovens carentes, coordenador da Editora Leopoldianum e coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa. Encerrei a carreira acadêmica em 2007, com o honroso título de Professor Emérito da UniSantos, concedido pelo Conselho Universitário, por indicação dos meus pares.

Quis o destino que a UniSantos, por meio de sua mantenedora – Sociedade Visconde de São Leopoldo –, tomasse a si a gigantesca tarefa de administrar, por mais de 20 anos, o mais expressivo conjunto arquitetônico-militar do Estado de São Paulo: a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1583), hoje Museu Histórico de Guarujá, administrado pela Prefeitura Municipal. Por meio de um trabalho voluntário, pude contribuir para uma releitura da história colonial do Brasil, pelo perfil militar / evangelizador, materializada pelas fortificações com nomes santos (oragos) que ainda permeiam o vasto perímetro da nossa pátria e pelas igrejas católicas, erguidas nos marcos “zero” da maioria das nossas cidades coloniais.

Esta aproximação entre o sabre e o livro, tão bem descrita no poema de Castro Alves, mostrou-me que há sempre um retorno inesperado quando se realiza uma boa ação comunitária, como um “hobby”, nada mais. E, assim, fui agraciado com o honroso título de Cidadão Honorário de Guarujá, a Ordem do Mérito Cívico Nacional e o ingresso acadêmico em diversas instituições culturais: Academia de História Militar Terrestre do Brasil, Academia Brasileira de Engenharia Militar, Academia Santista de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Por fim, e com muita honra, tornei-me membro efetivo da Fundação Cultural Exército Brasileiro (www.funceb.org.br), do International Scientific Committee on Fortifications and Military Heritage (www.icofort.org) e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (www.ahimtb.org.br), com a tarefa de criar a Delegacia Virtual Visconde de São Leopoldo, para melhor divulgar o lado belo da Arquitetura Militar de Defesa do Porto de Santos..

E assim também, as portas foram se abrindo para a realização de palestras gratuitas sobre Fortins, Fortes, Fortalezas – por eles veremos o Brasil edificado, com muita iconografia e pouca prosa, disponibilizando-as no formato de livros digitais, em três idiomas, no site: www.unisantos.br/fortifications.

Espero que este breve relato, “tipo história oral” ajude o(a) jovem leitor(a) a trilhar os caminhos do saber por meio de uma visão filosófica, buscando “compreender as coisas e os fatos que nos envolvem”, num dado momento histórico. Com certeza você será bem-vindo(a) ao “tapete mágico” da História colonial do Brasil.

Por outras palavras, com muita esperança, vontade, garra e determinação, busquei novos caminhos nos serviços voluntários, mantendo assim, uma saudável aproximação com as duas instituições permanentes e seculares que me proporcionaram plena realização profissional.